O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso reconheceu publicamente que algumas das penas aplicadas aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 “acabaram ficando elevadas”. A declaração foi feita durante o 1º Seminário Judiciário e Sociedade, promovido pelo Ciesp, e repercutiu fortemente em círculos jurídicos e políticos.
Reconhecimento e ressalvas
Barroso fez questão de diferenciar entre executores e mentores dos atos, indicando que as penalidades mais pesadas foram, em sua avaliação, aplicadas em casos em que a figura central não foi comprovadamente autora intelectual. “Eu concordo que algumas penas, sobretudo as dos executores que não eram mentores, ficaram elevadas; eu mesmo apliquei penas menores”, disse o ministro.
Ele afirmou ter pleiteado, desde os primeiros momentos do processo, que algumas condenações fossem fixadas em patamares reduzidos — “dois anos, dois anos e pouco” — no caso de indivíduos com participação menos direta.
Ao mesmo tempo, Barroso reforçou que não apoia uma anistia ampla aos envolvidos nos atos antidemocráticos. Sua posição é a de que a punição deve permanecer, mas as penas deverão observar proporcionalidade e dosimetria.
O contexto do julgamento e a necessidade de atuar
Mesmo admitindo que algumas sanções possam ter sido severas, o ministro reafirmou que o STF não poderia se omitir em julgar os envolvidos no 8 de janeiro — entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão pela 1ª Turma da Corte.
Barroso citou que as provas no processo são públicas e robustas: citações a um plano organizado intitulado “Punhal Verde e Amarelo”, colaboração premiada, incentivo a acampamentos militares exigindo golpe etc.
Ele também mencionou o impacto político do julgamento: “É um julgamento que causa mal-estar no país”, observou, lembrando que Bolsonaro teve cerca de 49% dos votos nas eleições anteriores.
Possíveis desdobramentos e reações
A declaração de Barroso dá margem para debates sobre revisão ou redução de penas, especialmente para condenados com papel secundário.
A proposta de anistia continua sendo rejeitada por Barroso, o que amplia a disputa política no Congresso entre quem quer perdão total e quem quer apenas ajuste nas dosimetria.
A declaração pode gerar reações contrárias de setores conservadores que veem essas falas como concessões perigosas ou sinais de insegurança institucional.
No meio jurídico, pode abrir caminho para petições e recursos que cobrem revisão das sentenças já executadas.
Para a sociedade, o gesto pode ser visto como tentativa de equilíbrio entre o rigor necessário e a justiça proporcional, numa questão com elevado simbolismo político.
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